segunda-feira, 21 de outubro de 2013

História de mudança

Hoje parei para pensar em aproximadamente 10 meses em que moro longe da proteção de meus pais, longe da onde cresci, longe da cidade pacata e ‘quase’ sem violência do interior.
Senti uma absurda saudade.  Saudade daquilo que fui, sei que não sou mais, e nunca mais voltarei a ser, aquele coração bobo, mole, que é sempre de acreditar outra vez. Aqui não posso ser assim... Se a ‘selva’ já é de pedra, como posso ter coração mole?
Foi pouco tempo depois que decidi ficar aqui, que meu motivo de ficar havia ido embora, e quando se foi e eu afundei numa melancolia de dar gosto, mas ainda assim eu fiquei e todos sabem porque eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitaria a queda, que aceitaria a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Comecei a me carregar tão perdida naqueles dias que se passaram.
E eu sabia que para atravessar fevereiro, ter um amor seria importante, mas como não consegui, já a vida não me deu e ainda me tirou — sem o menor pudor, inventei um.
Admito que doeu, que sufocou. Admito que eu não sabia pra onde correr. Admito que me consumiu, que me corroeu, que me despedaçou. Mas também admito me fez olhar pra frente e entender que tudo nessa vida tem uma razão, e que se você se machuca muito, depois de um tempo começa a não doer mais tanto.
Se ao menos dessa revolta, dessa angústia, saísse alguma coisa que prestasse, que me fizesse me recriar. Em outros tempos eu até diria “Tomei raiva de você”. Mas nem foi raiva, vejo isso só agora. É só tristeza mesmo de não poder mudar meu presente.
Passaram-se dias tristes, aquela vontade de não fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor, porque meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto sonho, e eu posso tornar tudo realidade, até mesmo criar anjos.
A gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros, nem dentro da gente mesmo. Foi quando resolvi apenas parar de correr, e ficar em silêncio. Porque o coração nem sempre é mocinho. Foi por isso que corri, tentei fugir, mas quando tem que ser, não adianta, será e foi. O silencio ás vezes responde até mesmo aquilo que não foi perguntado, e Deus, respondeu. E hoje acredito que todos os dias quando eu acordo Deus dá um sorriso e me diz: “Estou te dando a chance de tentar de novo” e Ele fez isso me mandando dois Arcanjos.
Quanta tolice minha, achar que sou tão importante para Deus, pra ele separar dois Arcanjos apenas para poder proteger a menininha que não sobreviveria sozinha. Mas não, eu não era tola. Mas como quem não desiste de anjos, fadas, cegonhas com bebês, ilhas gregas e happy ends cinderelescos, eu queria acreditar. E acreditando, quando eles não permitiam que eu atravessasse a rua sem olhar para os dois lados, eu não via braços, eu via asas.
Eu sou uma pessoa que constantemente precisa de segurança, de amor, de compreensão, de atenção, de alguém que sente comigo e fale: Calma, eu estou com você e vou te proteger! E eu achei: anjos disfarçados de amigos. Daquele tipo que você liga e diz: "aconteceu algo terrível, sinto que não vou suportar" e ouvir "senta e me espera, tô indo agora te ver e estou levando pipoca!”
Uma pessoa não precisa estar a vida inteira ao seu lado para se tornar única e inesquecível, e esses anjos se tornaram, não eternos, mas inesquecíveis.
Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade. A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções. Não me permitir entristecer, por nada, nem ninguém, nuca mais. Abraçar o que me faz sorrir. Criei laços com as pessoas que me faziam bem, que me parecia verdadeiras. Desfiz os nós que me prendem àqueles que foram significativos na minha vida, mas, infelizmente, por vontade própria, deixaram de ser. Nó aperta, laço enfeita. Simples assim.
Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tenho tentado da maneira mais bonita que sei, porque tem coisas da gente que não são defeito nem erro: são só jeito da gente ser. E que meu jeito continue sendo doce, e o meu modo de demonstrar afeto, meus olhares , meus receios, sejam únicos.
E hoje, apenas escrevo porque às vezes acho que sou Caio Fernando Abreu. Crio frases de pronto na cabeça, digo alguma coisa breve, sincera e apertada. Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta.
Olha, sabe duma coisa que eu aprendi com isso tudo? O desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. E tomaram.






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