Vagarosamente recuperei a consciência. Senti uma brisa suave e morna tocando meu corpo. Aos poucos percebi que estava deitado, com as pernas esticadas. Senti a terra, ainda úmida de orvalho, sob meus pés. Comecei a reparar ruídos ao meu redor. Pássaros cantando, folhas e galhos se movendo com ou sem brisa. Mais distante, reconheci o que aparentava ser uma praia.
Abri os olhos e percebi que estava em uma floresta, via flores com todas as cores, folhas com todos os formatos, árvores com todos os tamanhos, tudo isto crescia ao meu redor. Animais que nunca havia visto, ruídos, cores, formas, cheiros... Nunca tinha visto ou sentido qualquer coisa daquelas antes.
Me levantei e deixei meu corpo se adaptar ao contato com o vento quente. Olhando adiante, percebi que a vegetação se prolongava até o horizonte, e desaparecia abaixo de duas montanhas arredondadas, curiosamente brilhantes e marrons ao mesmo tempo, que protuberavam soberanamente sobre tudo ao redor.
Comecei a escutar músicas, distantes, quase imperceptíveis. Olhei em volta e o som havia parado. Ao olhar novamente para adiante a música voltou a tocar. A música vinha das montanhas. Quase tão delicioso quanto a brisa morna, o som envolveu meu corpo e parecia me chamar, me convidar, me instigar.
Rapidamente, corri pela mata. Suei mas não me sentia cansado. Muito pelo contrário, quanto mais eu corria, mais tranquilo eu ficava. Minha felicidade aumentava com a mesma intensidade que a música. E meu corpo sentia isto, mesmo sem entender os motivos, a cada vez que eu olhava em direção as montanhas, e elas, num majestoso marrom, me encaravam de volta.
Atravessei arbustos e moitas, desviei de árvores. Minha velocidade se intensificava a cada passo que eu dava, assim como a vontade de olhar as montanhas de perto, e saber o que elas escondiam lá de cima. A brisa quente continuava a tocar minha pele, e o suor escorria pelo meu corpo.
No meio do caminho vi árvores que ainda não foram inventadas, vi pássaros que faziam sons que nunca ninguém havia escutado, e senti cheiros deliciosos que nem os cérebros mais aguçados conseguiriam identificar. Cores vivas, sons lindos, e cheiros doces, tudo era novo.
Finalmente cheguei até as montanhas e olhei para elas.
As duas emitiam um brilho intenso e precioso, como dois sóis num mesmo mundo. Os meus sóis. Me perdi na intensidade da cor castanha delas, que me iluminavam em silêncio. Ao mergulhar no castanho delas me lembrei quem eu era, me lembrei o que era o mundo, mas o mais importante é que lembrei porque estava ali.
Sorri para você e te abracei ainda deitado.
Foi então que prometi a mim mesmo que um dia conseguiria explicar como realmente me sentia toda vez que abria os olhos ao acordar, e antes de te abraçar eu sorria olhando os seus lindos olhos castanhos.
TEXTO DE ANIVERSÁRIO DE MÁRIO ANDRÉ.
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