quinta-feira, 23 de dezembro de 2010



Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: "olha, não dá mais". Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: "mas agora eu tô comendo um lanche com amigos". Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não voltava pra mim? Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito. Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve. Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim. Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida. Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres,rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto. O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu! Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele. Ele quem mesmo?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Felicidade Instantânea?



Estava hoje, como sempre, de conversa fiada no msn, quando sinto a vontade de brincar com meu amigo de muitos anos KOIDY, então eu vi uma foto dele com uma outra amiga dele, que sorria aquele sorriso que mostra toda a sua arcada dentária se for possível, e então me vi em pensamentos e em diálogos com esse meu amigo.
Então começei a perceber certas coisas: como o fato de pessoas sorridentes SEMPRE estarem acompanhadas e serem amadas por unanimidade, mas tem uma coisa que me incomoda demais, é o fato de ninguém estar feliz sempre, não é assim. Se eu estou de mau humor, eu entendo que não há a necessidade de ser má humorada com as pessoas ao meu redor que não te culpa dos meus fracassos e frustrações, mas não é por isso que vou passar uma maquiagem de sorrisos antes de sair de casa.
Mas ao mesmo tempo que essa minha indignação me acompanha, também noto a admiração que tenho por esse tipo de pessoa, e ao mesmo tempo a pena.
A admiração pelo fato de atuar, dentro está morto, em pedaços, pronto pra explodir ou chorar a qualquer momento, mas for fora um semblante leve e feliz. Mas ai vem o pior, a pena. Pessoas assim geralmente tem mais dificuldade em se abrir, em falar de seus próprios sentimentos, ou até mesmo de demonstrar quando não gosta de algo.
Não é legal viver de aparências, de máscaras e de falsos sentimentos. Legal é falar quando estiver puto mesmo, sorrir quando estiver feliz, fazer cara feia quando não gostar, viver ao extremo, viver a vida, se importar apenas com quem se importa com você, abraçar apenas quem te abraça, a vida é legal assim, sem querer agradar a todos, ou até mesmo sem nem se esforçar em agradar. Afinal, agradar pra quê? No final, alguém irá criticar, porque é dificil agradar a gregos e troianos, mas quando agradamos a nós mesmos e a quem entende a gente, sempre seremos bem vindos.
Não irei concluir, porque de inicio era uma crônica e se tornou um desabafo sem pé nem cabeça.


''Eu sou otimista e foi o otimismo que me fez ficar vivo. Se eu não tivesse otimismo num certo momento, eu teria dançado. Eu consegui ver que eu mereço ser feliz, porque eu achava que não merecia. Eu era muito culpado, por isso fiquei mal, não conseguia ser feliz. Era muito feliz para o lado de fora, o ‘exagerado’ da rua, mas comigo mesmo não. '' Cazuza

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Antiga


-Você é antiga.
- E você não é a primeira pessoa que me fala isso.
- Consigo te ver de vestidos rodados, e meias soquete com sapato. Cintura marcada, e cabelos enrolados. Buscando o leite em garrafa de vidro, a cada manhã. Congelaram o protótipo de mulher ideal das décadas passadas, e por isso é que você já veio ao mundo com opinião, grandiosa. Mulher.
- Isso tudo é o que você fantasiou.
- Você gosta de telefone celular? Não. Você se diverte nas festas com música eletrônica, superlotadas? Detesta. Você não sabe levar relacionamentos inseguros. E quando cede alguns beijos sem compromisso, se ressente todinha, que eu sei.
- São referências, e não fatos. Mesmo gostando muito desse rótulo retrô, acho que as modas voltam. Mudam pouco, rodam ciclos, e retornam. Mais alguns anos, e a promiscuidade cede lugar ao modo vintage de ser, o novo must have.
- Consigo ver você tragando em piteiras enormes, farta de jóias, impecável numa cozinha fazendo o almoço café e jantar, para o marido e os filhos famintos.
- Gosto de cozinhar. E caso quisesse escrever nas horas vagas, será que algo visto com bons olhos no meu verdadeiro antigo tempo?
- Se seu marido fosse um liberal, acho que tudo bem. Admita: você pilota muito melhor fogão, que automóvel. Prefere cartas, longos escritos, às tão banalizadas conversas instantâneas. Esperou para se dar inteirinha para um cara que te ligaria no dia seguinte. Já tomou seus porres, coisa que até os mais idosos de alma fazem, desde os primórdios tempos. Apenas tem preferido a discrição atualmente, o que é respeitável de uma peça antiga como você. Não beija mais que dois na mesma festa, mesmo se for o príncipe dos seus sonhos (que eu tenho certeza que existe no seu lado idade média, admita também). Aliás, se descobriu no barzinho. Cansou do ritmo acelerado e dos papos fúteis da noite badalada. Você está é em extinção.
- Tudo bem, eu admito sim todos esses fatos. Com certo orgulho, talvez. Mais alguma acusação?
- Você não tem piercings, e nem tatuagens. Abre mão das drogas ilícitas, usufruídas por praticamente todo jovem atual. Por você, o cara só beijaria sua mão no primeiro encontro. Pediria em namoro aos seus pais, como sinal de respeito. E o noivado? Numa grande festa, pedindo a sua mão com um anel enorme em brilhante.
- Verdade, verdade. E quem não quer esse romantismo arcaico? Passear de cavalo com longas tranças, ser salva do tédio não sei se pelo príncipe, mas algum Robin Hood da era moderna, que dá alegria à quem precisa, e a tira de quem não valoriza o sorriso com bravura? Muita mulher é assim, e apenas não se assume ser arcaica.
- Você sonha em viajar para o velho continente, Europa, que eu sei também. Escuta as músicas que seus pais hierarquizaram para você, e gosta disso. Não compreende a bissexualidade, mas aceita os homossexuais como quem quer abraçar alguém logo após um acidente: cheia de compaixão. Trair, para você, além de falta de amor é algo imperdoável. É tímida, só se soltando quando já conhece bem o terreno em que pisa. Não faz amizades por conveniência, e nem sai sorrindo por aí, efusiva. Se fecha com seus livros, e mundos paralelos. Satisfeita com sua família, amigas, e outros pouco selecionados. Você é a antítese, o paradoxo.
- O que é contrário sempre se associa a certo medo, e quem sabe, prazer. Não quero ter que provar que gosto do que repugno e aceito o que acho intolerável apenas para agradar aos moderninhos de plantão. Tenho pavor de montanha russa, e a imbecilidade dos jovens quando em bando me dá náuseas. Sou feita para andar em par, em trio. Festa é algo pra de vez em quando, se não deprimo logo. Todas aquelas conversas montadas, as relações superficiais em que um quer mostrar ter mais que o outro me fazem bocejar. Para escapar da rotina, é que ensaio a tentativa de me parecer com todos os outros, ocasionalmente.
- Vão querer te xerocar, qualquer dia. Uma clonagem em massa, do fenômeno que é não pertencer a esse mundo superficial.
- Daí me reinvento mais uma vez, não para seguir algum modismo, mas sim para camuflar a essência um pouquinho, e escapar sem demais arranhões.
- E se você esconder tão bem e o Robin Hood não te perder de vista?
-  Jogo pelo caminho um pouco do elixir da essência: é o que marca, fica, e aponta as setas de quem a gente realmente quer encontrar. Antiga, ou não.

Mais aqui: http://calmila.blogspot.com

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma carta pra você



Foi engraço entrar nesse ônibus desembestado, num impasse estranho, metade de mim quer te esquecer e te ver bem longe da minha vida, enquanto outra metade insiste em te querer, em olhar nos seus olhos imaginando se você também vê o brilho dos meus ao te ver, em me importar, em ligar, mandar mensagem, encher o saco e mostrar presença... E tudo isso eu pensava num fração de segundos enquanto entrava e te avistava. Não deu... Foi mais forte que eu e sentei ao teu lado. Tentava não te encarar, não tagarelar e falara apenas por falar. O que mais machuca é o vento batendo e seu perfume vindo em mim, não, eu preciso ficar na janela! Mas ainda assim queria estar ao seu lado, e mais uma vez a boba fica. Puxa um assunto, conversa, conta histórias engraçadas e ri de casualidades. Porque mesmo que você nunca seja a outra metade da minha emoção, que seja a metade da minha razão. Algumas coisas eram ditas por você que me faziam ficar chateada, mas não importa, eu sei disfarçar fingindo ser sono, e fica fácil assim com a minha pele branca, que nesses últimos dias tem ficado mais pálida devido a mil doenças que adquiri por não me alimentar. Quando vejo é minha parada, me despeço e sigo novamente meu rumo. Não faz diferença se desci bem, ou se não olhei pra trás pra me despedir. Porque você estaria me fitando? Porque você olharia meus passos pela noite chuvosa? Porque deveria te contar que já há outro rapaz? E por qual motivo deveria lhe dizer que mesmo assim, ainda estaria ali por você? Mas isso é passado, que eu já tenha dito, tenho até o fim do ano pra esquecer... Quando estourar os fogos de Reveillon, meu pedido será : "quero esquecer tudo o que não se lembra de mim" e no meu primeiro gole de Champagne, esquecerei seu nome, pode crer.


Jess Mendonça
Liezel Menniguer