segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

272 dias com você, e contanto...

Bom, (de acordo com uma conversa que um dia tivemos no chuveiro) dia 26 de março de 2013, eu fui ao BayMarket para que um amigo cumprisse seu papel e me ouvisse choramingar mais um relacionamento desfeito, e ele cumpria seu papel muito bem, até que resolveu falar com um garoto baixinho que eu nem imaginava que conhecia. Este era seu amigo, e algumas vezes falei mal do meu ex-namorado porque ainda estava com um certo despeito dele já ter outra, e eu não.
Mal percebi que o conhecia, e fique muito sem graça por notar que ele o conhecia, e principalmente porque não havia notado que um menino alto e de cabelos cacheados o acompanhava, e que até se parecia um pouco de quem eu tanto falava mal. Este era você. Depois de algum tempo, de conversa jogada fora e troca de telefones, eu me apresso a ir pra casa porque havia sido assaltada e estava com medo, e você, gentil como sempre se oferece a me levar pra casa.
Acho que nunca vou me esquecer de como você me contou tudo sobre a sua ex namorada, e eu nem sabia quem você era direito, mas de uma coisa eu sabia: você por alguma estranha maneira parecia confiar em mim. E de alguma maneira estranha vir com você me fez me sentir bem.
O tempo passou, e depois começamos a nos falar mais, e irônico é que você sempre foi o que falava que queria um amor, uma companheira, que se sentia sozinho e coisas mais. Enquanto eu, era a que não queria nada disso, queria ser sozinha, ir em todas as “Hey Joe”, ir toda quinta feira na Cantareira, beber, esquecer de tudo, e depois vomitar todas as esperanças de estar com alguém. Até o dia que você comentou que me achava interessante.
Ai decidimos que veríamos filmes, e nos conheceríamos melhor, foi quando ficamos pela primeira vez, na minha sala, e eu morrendo de medo da menina da república acordar, e foi por isso que você foi embora de manhã bem cedinho, e eu, que tinha esse muro de distância, espaço, causalidade, estava se desmoronando devagar, pois ali estava você no meu mundo, num lugar que poucos foram convidados para entrar, eu estava querendo você ali e  ninguém mais dormindo ao meu lado.
Com o tempo nos víamos cada vez mais e mais, e cada vez mais eu convidava você e seu amigo para irem na Cantareira comigo, (eu, que antes ia e voltava sozinha pelo medo de ser encontrada bêbada por alguém conhecido) no entanto, eu apenas fazia isso para poder vê-lo e poder te beijar quando voltasse pra casa.
Até um dia, que eu voltei antes, e vocês me trouxeram em casa, e mais tarde eu soube que você havia dito pra todo mundo que só não ficou comigo porque eu tinha comido mostarda e que queria voltar na Cantareira para pegar outra. Minha vontade era de fazer você sumir, como sempre tento fazer quando alguém me magoa de tal modo, e pela primeira vez fui mais madura que isso e resolvi falar com aquele seu amigo, que estava no mesmo lugar e momento e não ouviu nada disso. E foi ai que resolvi deixar pra lá, afinal, não era sua namorada e você podia fazer o que quisesse.
Resolvi ficar com outra pessoa, mas não era como seu beijo, e no mesmo momento me senti a pessoa mais estúpida do mundo.
Mas todas as vezes que se pensa muitas e muitas vezes em outra pessoa, pode ser sinal de perigo, e eu sempre pensava em você, e em como iria fazer com que você viesse sem perceber que já nutria um sentimento por você.
Até o dia que você desmarcou 3 vezes para irmos ver o pôr do sol, e eu fiquei furiosa, e após longos períodos de respostas ríspidas no facebook você manda um “amo você” no meio da conversa. E eu nem sei se você lembra disso, mas eu lembro o quanto fiquei vermelha e a menina da república ficou perguntando o motivo, e o máximo que eu fiz foi mandar um coração. Exatamente por medo do que mais poderia acontecer.
A casualidade de você aqui, e a nítida preocupação que você tinha por a cada vez mais fazia eu me sentir importante, e até mesmo amada. Como quando você me mostrou seu caderno de musicas do Legião Urbana, e cantamos juntas quase todas as musicas, até que você me dedicou “Teorema”, e desde então, só basta eu pensar em você me vem ela na minha cabeça.
Ou o dia que fomos no alto da Pedra do Elefante, que eu me esforcei ao máximo, mesmo que quase tenha parado de respirar algumas vezes, tenha ganhado novos machucados, eu estava feliz, porque pela primeira vez teria uma foto com você e teria porque você mesmo que pediu uma foto juntos. E nesse dia, mesmo que eu nunca tenha me interessado por coisas mais ‘ecológicas’ eu estava lá com você, e isso me fazia feliz.
É o que sempre acontece, a vida. A vida fez com que aos poucos parecêssemos mais casal, e isso nunca foi real. E mesmo assim meus dias eram sempre melhores quando você estava aqui, mesmo que eu agisse como uma criança birrenta.
Como o minha avó morreu e eu não tinha folego pra nada, a não ser pra chorar, e jeito que você deitou em cima de mim e me abraçou, até que eu parasse de ofegar, mesmo que estivesse atrasado. Ou quando falou que não viria, e eu discuti horrores, até que você viesse e me encontrasse após ter fumado 1 maço, escutado 2 vezes o mesmo show do Cazuza e me encontrado debaixo do chuveiro chorando, mas mesmo assim ignorou solenemente a burrada que eu tinha feito, e naquele momento só queria me abraçar e me fazer sorrir e tirar aquela cara feia de tristeza.
Até que hoje chegou, e eu pude ver tudo desmoronando, eu pude saber que de fato nunca fomos ‘nós’ e nunca seríamos. Pude ver que na verdade, você mantinha uma conversa mais pessoal com outra pessoa do outro lado do País. Pude saber que eu jamais seria a sua namorada apenas por ter um jeito mais contestador de ser. E eu sempre tive medo desse dia, do dia que você chegaria e diria: “Eu acordei e  soube o que com você eu nunca tive certeza.”
E logo eu, que criei uma armadura do tamanho do mundo antes de te conhecer hoje paro e escrevo tudo o que sinto para um maldito Office me consolar. Por mais que eu queira nunca mais te ver, acho que não consigo. E te amo tanto, que até espero que você seja bem feliz com essa pessoa que não contesta, não briga, não tem a maldita mania de nunca não querer dormir sozinha, seja mais madura e mais bonita. Enfim, o que você sempre sonhou.


Texto de 22 anos (:

Vagarosamente recuperei a consciência. Senti uma brisa suave e morna tocando meu corpo. Aos poucos percebi que estava deitado, com as pernas esticadas. Senti a terra, ainda úmida de orvalho, sob meus pés. Comecei a reparar ruídos ao meu redor. Pássaros cantando, folhas e galhos se movendo com ou sem brisa. Mais distante, reconheci o que aparentava ser uma praia.

Abri os olhos e percebi que estava em uma floresta, via flores com todas as cores, folhas com todos os formatos, árvores com todos os tamanhos, tudo isto crescia ao meu redor. Animais que nunca havia visto, ruídos, cores, formas, cheiros... Nunca tinha visto ou sentido qualquer coisa daquelas antes.

Me levantei e deixei meu corpo se adaptar ao contato com o vento quente. Olhando adiante, percebi que a vegetação se prolongava até o horizonte, e desaparecia abaixo de duas montanhas arredondadas, curiosamente brilhantes e marrons ao mesmo tempo, que protuberavam soberanamente sobre tudo ao redor.

Comecei a escutar músicas, distantes, quase imperceptíveis. Olhei em volta e o som havia parado. Ao olhar novamente para adiante a música voltou a tocar. A música vinha das montanhas. Quase tão delicioso quanto a brisa morna, o som envolveu meu corpo e parecia me chamar, me convidar, me instigar.

Rapidamente, corri pela mata. Suei mas não me sentia cansado. Muito pelo contrário, quanto mais eu corria, mais tranquilo eu ficava. Minha felicidade aumentava com a mesma intensidade que a música. E meu corpo sentia isto, mesmo sem entender os motivos, a cada vez que eu olhava em direção as montanhas, e elas, num majestoso marrom, me encaravam de volta.

Atravessei arbustos e moitas, desviei de árvores. Minha velocidade se intensificava a cada passo que eu dava, assim como a vontade de olhar as montanhas de perto, e saber o que elas escondiam lá de cima. A brisa quente continuava a tocar minha pele, e o suor escorria pelo meu corpo.

No meio do caminho vi árvores que ainda não foram inventadas, vi pássaros que faziam sons que nunca ninguém havia escutado, e senti cheiros deliciosos que nem os cérebros mais aguçados conseguiriam identificar. Cores vivas, sons lindos, e cheiros doces, tudo era novo.

Finalmente cheguei até as montanhas e olhei para elas.

As duas emitiam um brilho intenso e precioso, como dois sóis num mesmo mundo. Os meus sóis. Me perdi na intensidade da cor castanha delas, que me iluminavam em silêncio. Ao mergulhar no castanho delas me lembrei quem eu era, me lembrei o que era o mundo, mas o mais importante é que lembrei porque estava ali.

Sorri para você e te abracei ainda deitado.

Foi então que prometi a mim mesmo que um dia conseguiria explicar como realmente me sentia toda vez que abria os olhos ao acordar, e antes de te abraçar eu sorria olhando os seus lindos olhos castanhos.

TEXTO DE ANIVERSÁRIO DE MÁRIO ANDRÉ.