sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O segredo de um casal feliz.

Tem sono no sorriso pela manhã. No café na cama tem pão com requeijão e suco de laranja servido naquela caneca de plástico dos Minions que se tem tanto ciúme de usarem. Não tem pijama, mas tem aquela camisa grande que pouco vira um vestido. É fim do mês, a grana tá curta, mas foi o dia depois do mesversário, só que (olha a sorte) não se contava exatamente com um dinheiro extra pra um café especial com Panetonne recheado de amor. Tem um monte de coisa no mercadinho lá onde dobra a esquina que não se compra com dinheiro nenhum no mundo. A felicidade, no fim, mora na falta. De pudor, de exageros, de mimimi.

A roupa suja está fora do cesto, mas ele compensou com um abraço matinal que tanto sente-se saudade quando não dorme-se lá. Ela se irritou com a bagunça deixada na cozinha, mas fez as pazes a noite a deixar o prato preferido dele dentro no microondas, como se fosse uma surpresa dentro de um embrulho. Hoje é dia de rock, mas amanhã vai ser de mpb ou músicas emo depressivas, para agradar os dois e sorriso nenhum passar vontade. Ele estava de péssimo humor e esbravejou sem necessidade a sua ira. Ela respirou bem fundo, abriu a porta da sacada e foi olhar as luzes da cidade e deixou sem pressa o furação passar. A felicidade também mora na renúncia. Do ego, da certeza, da superioridade. 

Os casais felizes não são necessariamente ricos financeiramente, não fazem viagens mais exuberantes, muito menos frequentam semanalmente as baladas da moda. Eles são felizes exatamente com aquilo que tem. Seja pão no ovo frito naquela chapa elétrica ou uma coca cola gelada com aquele macarrão de microondas que ela sisma em fazer ficar grudado. Não existe uma fórmula secreta. Existem duas pessoas que se amam, com disposição (ou teimosia) de sobra pra fazer dar certo, e transformam qualquer cilada em qualquer programa super divertido (como fazer gritarem 'gordinho, gordinho' numa tempestade de arrastar mesas de plástico e se tornar a sensação da praia). O segredo dos casais felizes é justamente a paciência, a leveza, a tranquilidade, e acima de tudo, a vontade. A felicidade mora no colo durante o filme, no abraço depois de um dia agitado de trabalho, na mensagem de bom dia naquela segunda feira chata e chuvosa, no amor simples e puro como deveria ser.

De que adianta todo o dinheiro do mundo se na hora da intimidade surge o receio bobo do mau hálito, do cabelo desgrenhado (que ele mesmo insiste em bagunçar, porque diz que ela é linda dessa forma mesmo), da depilação atrasada. Amor bom é amor simples. É aquele que sabe reconhecer um erro, que não deixa qualquer bobagem estragar  um clima agradável, que sabe lidar com alegria com os resquícios do tempo. Ao mesmo tempo é aquele que sabe ponderar, pontuar sem necessidade criticar, que tem cautela e respeito na hora de falar, pois sabe que uma frase dita sem cuidado é chama que incandesce ainda que se tenha consumido todo o combustível. Felicidade é tentar ser para o outro a paz que ele tanto precisa. 

Eu sei que você chegou até aqui em busca da fórmula milagrosa de permanência e reciprocidade. E de fato essa mágica existe: se chama desapego. Se livrar dos nosso pré-conceitos, das nossas ideias muitas vezes fracassadas de plenitude, da necessidade de estar sem pre certo, por cima e ser absolutamente inflexível. Amar é ver a vida com os olhos mais humildes. Reconhecer que existem outras razões além das nossas e abraçar essa diversidade como se fosse a única do mundo. Felicidade é descer alguns degraus de escada para conseguir mirar um sonho mais alto (aquele sonho de ver o sorriso bobo dele quando se está realmente feliz, e se sentir cada dia mais apaixonada).

O segredo é abandonar tudo aquilo que você achava que sabia sobre amor e se permitir aprender ao lado de alguém sensacional. Se fosse fácil não existiram tantos desencontros ao longo da travessia. Seria óbvio, clichê e padrão, e sei que nada disso agradaria a nenhum dos casais sensacionais que existem. Amar é na maior parte do tempo não saber. Uma dança deliciosa que se erra o passo, o outro ainda consegue manter o equilíbrio. Ora inverno (aniversário dele), ora verão (aniversário dela), parece que até nisso eles precisam estar em lados opostos, e ao mesmo tempo, tão juntos. Em um mundo em que trocar de abrigo é muito mais conveniente do que perfumar o ninho, os casais felizes não são perfeitos, eles apenas não desistem um do outro. Simples assim.

Obrigada Felippe Silveira Dias, por ser parte, inspiração e o motivo da escrita desse texto. No todo, feliz natal a todos os leitores, que também não desistiram de achar que ainda teriam novos textos aqui.

Da sua nobre escritora, ela...