quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Paradoxo do Entendimento




"Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana."

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

De um ponto de vista eu compreendo a minha escritora favorita, ou o que tentara dizer nessas frases. Já me senti inquieta diversas vezes por querer entender um sentimento, uma pessoa, uma situação... E muitas e muitas vezes percebi que passava horas pensando, refletindo, fazendo e refazendo meus passos, analizando cada palavra dita, juntando a fatos, a situações que ocorreram e tampouco percebia que o que mais me entretia era o quebra-cabeças. Um rapaz poderia dizer que te odeia, e quando te olhar nos olhos não fingir aquela súbita paixão adolescente que não se entrega por nada. Ou até mesmo uma doce menina fazer pose de má e de auto-suficiente pra não demonstrar carência e conquistar quem tanto almeja. É até engraçado essa mania de nós, seres humanos, em tentar disfarçar o que na verdade é. Pode estar estampado na cara, nunca é de fato verídico, sempre há algo a esconder.

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