terça-feira, 1 de julho de 2014

Meninices ~ Ou, apenas eu, menina.



Eu disfarço muito bem e quase ninguém percebe. Tem um monte de gente por aí que acha que me conhece o suficiente. Outros tantos acham que sabem o bastante sobre a minha vida. Entra no meu mundinho secreto quem eu deixo. Acho que a gente não deve escancarar a vida, tem coisa que é só nossa e de mais ninguém. Quanto mais a gente dá liberdade para os outros mais eles se sentem no direito de se intrometer e dar palpite. Não gosto, pois da minha vida cuido eu. Das minhas coisas só eu sei. Do meu amor só eu entendo e sinto.

Acredito que tudo que a gente faz acaba de uma forma ou de outra voltando pra gente. Não sei se é bem assim que funciona, mas prefiro guardar essa pontinha de esperança pra botar mais fé no mundo e nas pessoas. É que elas frequentemente me decepcionam. Prefiro os bichos, que não disfarçam nem ficam fingindo que gostam de você. Eles simplesmente amam sem interesse, amam por amar.

Muita gente me acha bem extrovertida e falante. E eu sou. Mas uso isso como uma espécie de proteção, camuflagem, escudo. No fundo, acredite, sou tímida. Bem tímida. Sou tão tímida que fico vermelha quando me envergonho. Vermelha mesmo, pareço uma cereja (inclusive tinha esse apelido no Ensino Médio). E apesar de ser sagitariana eu odeio aparecer. Juro.

Sempre tive peito grande por isso andei com os ombros curvados e as roupas super largas poe grande parte da adolescência. Tinha vergonha dos meus peitos, de pensarem olha-lá-ela-já-tem-peitão. Eu achava que chamava atenção, tinha pinta na bochecha, era ruiva, peituda, bunduda, então tinha vergonha de ser mulher, queria me esconder, não queria ser notada, não queria me destacar. Era o oposto de todas as meninas da minha idade: todas queriam chamar atenção de alguma maneira. Eu queria me esconder do mundo até o fim do mundo.

Na verdade, acho que sempre tive vergonha do meu lado "mulher". Por isso, até hoje me escondo atrás de meninices. Gosto de pijamas fofos, coisas com fru-frus, abobadices e coisas queridas em geral. E o lado mulher? Cadê a cinta-liga, o batom vermelho o olhar fatal, a jogada de cabelo? Não sei. Sei que isso tudo está em algum lugar de mim, mas acho que por tanto tempo escondi meu lado "uau" que agora ele brinca de pega-pega comigo. Tomara que eu consiga ter a coragem de pegá-lo de uma vez e, enfim, não ter a menor vergonha de me descobrir e ser quem eu, lá no fundo, sou.







4 comentários:

  1. E no fundo você é bem mais do que imagina ser.
    Lindo texto como sempre, vc se descrevendo, despindo seus medos em forma de palavras.

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  2. As coisas acontecem assim mesmo... Também já tive vergonha de ser mulher, acredita? Eu queria ser menino... Então, sou criança. Sei que guardo meu lado mulher dentro de mim, em algum lugar, bem escondido. Mas, só encontro de vez em quando.
    Com o tempo a gente aprende a senha do cofre que esse lado fica guardado e aprende a usar. Mas, tudo tem seu tempo.

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  3. verdade! e voce me ensina isso um dia :D

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